terça-feira, 20 de abril de 2010

Humanitários, oportunistas, ou as duas opções?




Que encanto têm as favelas cariocas? Por que o mundo fica tão fascinado com um lugar onde a criminalidade e a luta para se viver honestamente caminham de forma paralela?


Em 1996, o maior expoente da música pop mundial, Michael Jackson visitou o morro Dona Marta, local que escolheu para parte das gravações do videoclipe de “They don’t care about us” (Eles não ligam para nós). O diretor do clipe, Spike Lee, inclusive admite ter pagado para os traficantes garantirem a segurança do cantor, alegando que a polícia carioca não conseguiria cumprir essa missão.


Em 2002, o filme “Cidade de Deus” retratou outra favela carioca e divulgou ao planeta uma realidade cruel do poder que o tráfico de entorpecentes detém sobre os moradores. A produção foi muito bem recebida, inclusive com 4 indicações ao Oscar de 2004.

Recentemente, assim como Michael, Madonna também esteve no Dona Marta. Mas, a visita da rainha do pop tinha um intuito mais humano: ampliação de projetos sociais. Já em 2010, dois novos nomes da música internacional se juntaram para outro clipe nas favelas do Rio de Janeiro: Beyoncé e Alicia Keys gravaram juntas o vídeo da música “Put it in a love song” (Ponha isso numa canção de amor).

A visita de Madonna e o filme “Cidade de Deus” são boas iniciativas para o bem das favelas. A música e o clipe de Michael Jackson também tinham um viés social. Trechos da letra dizem “Tudo que eu quero dizer é que eles não ligam para nós... Sou vítima da violência da polícia. Cansei de ser vítima do ódio...”. O vídeo correu o mundo, e a comunidade hoje é protegida pela polícia, onde não há mais pontos de tráfico.

Só me parece dispensável a visita rebolativa de Beyoncé e Alicia Keys para cantar inutilidades como “Diga que me ama, diga que me ama. Depois coloque isso numa canção de amor” ou então “Se você realmente precisa de mim como diz, é melhor me mostrar, é melhor vir e dizer”.

Qual a relação dessa letra com as favelas cariocas? De forma oportunista, a sensação é de que apenas escolheram um cenário “feio” para contrastar com suas “belezas”. As duas representam uma arte pasteurizada e homogênea, sem criatividade e emoção, que apela muito mais para seus atributos físicos, do que pelo talento musical. Para definir esta arte, o jornalista Jamari França brilhantemente citou Nélson Rodrigues: “tem a profundidade que uma formiguinha atravessa com água pelas canelas”.

Resultado Enquete "Reality Shows"

A enquete referente ao texto anterior, sobre Reality Shows, teve o seguinte resultado:


Qual o Melhor Reality Show da TV Brasileira?
BBB - 57%

Solitários - 28%
O Aprendiz - 28%

No Limite - 14%

A Fazenda - 14%

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Reality Shows

Agora vou começar a colocar enquetes (do lado direito da página) sobre os temas dos textos. Acho que isso pode ser interessante para o blog. Aproveite e responda à enquete sobre reality shows!!! Desta vez, é possível selecionar mais de uma opção.

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A enquete referente ao texto anterior, sobre a Geisy Arruda, teve o seguinte resultado:
Geisy Arruda estava vestida adequadamente para ir à Faculdade?
Não - 64%
Poderia ser melhor - 54%
Sim - 9%

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Esse texto foi publicado nas primeiras edições de 2010 do Jornal Bairro em Foco. Confira!
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Formatos diferentes. A mesma fixação: comportamento alheio.

Começo de ano, férias de funcionários, e as emissoras de TV lotam suas programações com “reality shows”. Atrações que pretendem chamar a atenção explorando o comportamento real de indivíduos frente aos mais diferentes desafios, sempre em busca de algum prêmio em dinheiro.

O mais bem sucedido programa do gênero, obviamente é o Big Brother Brasil, em sua décima versão na Rede Globo. Todos já sabem que os participantes ficam durante meses numa casa, votam uns nos outros para o “paredão”, onde o público elege semanalmente quem deve sair do jogo. Quem permanecer mais tempo leva um prêmio milionário.

As armações, intrigas, amizades e romances são apenas ingredientes do que se dedica a ser uma espécie de novela da vida real. E como o brasileiro tem o hábito de futricar a vida alheia, o formato da atração tem feito sucesso todos os anos. Sem contar o apelo sexual de participantes, em sua maioria, saídos de catálogos de agências de modelos. O que causa dúvida é a possível manipulação da opinião popular, já que a imensa maioria das pessoas (por motivos óbvios) não acompanha o programa 24h por dia. Fica a cargo de um resumo diário, editado pela própria emissora, a missão de transmitir a suposta realidade do jogo. Com isso, alguns participantes se tornam heróis e outros, de maneira inversamente proporcional, vilões. E bem sabemos que uma vez editadas, as imagens podem nos levar a conclusões equivocadas.

Em contrapartida, com menos glamour, porém bem mais intrigante, o SBT apresenta “Solitários”. No programa, 9 pessoas tem de ficar 20 dias confinados em uma pequena cabine, sem contato com o mundo externo e sequer uns com os outros. Eles passam por provas que vão testar suas habilidades e dificuldades individuais, os elevando até o limite das forças física e mental. Da mesma forma que o BBB, neste jogo o último a sair também é o vencedor. Contudo, leva para a casa um prêmio pequeno se comparado à recompensa da atração global: R$ 50mil.

Se um “reality show” se propõe a ser uma espécie de laboratório de observação do comportamento humano, os testes de “Solitários” me parecem muito mais interessantes do que as já manjadas táticas dos BBB’s. Está certo que a edição de imagens do SBT também pode mudar o que deveria ser real. Mas é melhor ser mero espectador de um jogo empolgante, do que ter a falsa sensação de interatividade do Big Brother, e me sentir manipulado pelas edições de imagens. No que depender de mim, nessa briga o BBB fica cada dia mais sozinho, enquanto faço companhia aos solitários do SBT.